Ao pensar no luto e nas constantes conversas partilhadas sobre o processo compreendo que nunca deixei de reviver as minhas perdas. No fundo acabo por sentir que uma parte de mim acaba por seguir ao lado de quem parte, fica um vazio em mim que jamais é preenchido com os que entram na minha vida.
Hoje foi sem dúvida um dia que a perda esteve presente, só que de uma forma diferente que nunca tinha vivenciado. Após vinte quatro anos a vida leva-me a reviver a despedida de alguém muito especial e único que faz parte da minha história. Jamais imaginei que seria possível ter uma segunda despedida de quem partiu há tanto tempo, mas a vida acabou por trazer de volta a dor, o sofrimento e a tristeza. Como é possível? Só mesmo vivendo é que podemos perceber o peso de ter de desenterrar e voltar a devolver ao universo o restos mortais de uma pessoa que morreu há vinte quatro anos.
O significado da perda tem contornos únicos para cada um, depende da relação que foi vivida, das circunstâncias que ela ocorre e do ciclo que nós estamos a viver na altura. Existem perdas difíceis de superar, outras demasiado precoces e algumas impossíveis de acreditar.
A dor é intensa e difícil de contornar, a tristeza vai e vem e a saudade uma constante em tantos momentos... Aceitar a Morte é o grande desafio, tentamos negar, esconder e evitar, mas ela faz parte da nossa condição humana.
Neste momento, quando penso no processo de luto acabo por ficar absorvida na imensidão temporal deste luto que vivo no momento e que vivi há vinte quatro anos. Nunca pensei que iria voltar ao mesmo lugar, ao mesmo sentir e ao mesmo luto.
Acabo por refletir e perceber que a imortalidade de cada um são as nas nossas memórias, do seu papel e importância, do que partilhámos e crescemos lado a lado. Quero acreditar que a vida é imortal a partir dos que seguem ao nosso lado, podemos já não estar presentes no mundo, mas o que deixámos ao outro vai continuar e manter viva e real a nossa existência.
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