Passado dois dias continua a ser difícil colocar em palavras o meu sentir após o adeus...
Quando conheci tinha apenas 13 anos, uma menina muito especial e com um estilo muito distinto das que conhecia. Ela surge na consulta no seguimento de uma fase muito difícil do seu distúrbio alimentar que a levou para um lugar muito sombrio. O pedido surgiu pela necessidade de apoio psicológico na construção de um projeto de vida e, acima de tudo, na construção de um eu mais confiante e seguro de si.
No primeiro instante senti logo um fascínio pela sua forma de ser, contudo angustiada ao perceber o seu fascínio pelos corpos magros. Uma jovem com uma dor intensa e um sentimento de culpa enorme, buscou apoio e abraçou com muita coragem o processo terapêutico. Ela tinha uma história marcada pela dificuldade em aceitar o seu corpo e por sentir que não era aceite pelo outro. Durante três anos cresceu um laço afectivo, aprendemos a viver a nossa partilha respeitando o espaço e o tempo de cada uma. Na relação vi o crescimento e força de uma jovem em superar e aprender a gostar de si. E depositei a esperança no brilho que vi no olhar, no primeiro dia, acabasse por ser interiorizado por ela.
A minha admiração por ela surgiu no primeiro instante, a sua maturidade, a sua capacidade de análise e visão da relação com o outro revelava um olhar profundo e único do mundo e de si. E nesta viagem penso que foi preponderante o olhar e à admiração para que a jovem encontrasse o seu Equilíbrio e integrasse o seu Valor.
No final, ambas percebemos que tinha chegado o momento da despedida, que ela tinha de Voar Mais Alto, e se sentir capaz de lidar sozinha com os desafios da vida. O meu sentir nesse dia foi " Ela precisa de voar sozinha, acredito que esteja preparada para gerir as vicissitudes da vida." Contudo acabei por devolver a necessidade de ela estar atenta à sua fragilidade na relação com outro, do facto de ainda sentir o medo das relações devido à sua vivência negativa anterior.
Enquanto eu, apesar de ser difícil deixar ir após tanto tempo, de sentir a ausência de uma jovem que vi crescer, sinto um orgulho enorme nela e, acima de tudo, sinto-me grata por tudo o que ela ensinou-me e de todas as partilhas que tive a possibilidade de viver durante três anos.
Comentários
Enviar um comentário