Hoje confesso estar nostálgica, a relembrar a minha terra, África, com vontade de sentir o chão e o cheiro dela e, ao mesmo tempo, a reflectir sobre a vida e o sentido que nem sempre conseguimos encontrar.
Ao reviver memórias tenho o impulso de voltar e dedicar-me ao trabalho que sempre pensei na infância realizar: trabalhar em África, a contribuir para minimizar todas as condições precárias da vida e dar tudo o que tenho para minimizar o sofrimento de uma população que luta para sobreviver.
Neste mundo que vivo hoje as pessoas vivem insatisfeitas por não terem mais bens materiais, por não terem sucesso, protagonismo... Esta vivência leva -os a esquecer tudo o que a vida lhes dá e que eles não conseguem apreciar: comida, casa, saúde, etc. E depois acabam por perder o contacto com o sorriso puro, deixam de apreciar gestos simples. Além disso, o facto de tudo ser um dado adquirido e não agradecido leva à falta de força para lutar e à falta de coragem para viver. Acabamos por sentir insatisfação, frustração e tristeza na vida que vivemos. E com isto, construímos uma sociedade consumista e materialista, com perca de valores morais e espirituais, que vive a uma velocidade louca em busca do ter e esquece ser e dar.
Ao olhar para um mundo perdido, para o vaguear de todos em estado vegetativo, em que nada os satisfaz, penso nas crianças que conheci na primeira semana em Moçambique, com um sorriso enorme mas com roupas rasgadas, pés descalços e barriga vazia. Esta imagem relembra-me um povo sem meios e que consegue ainda ter esperança e, nas pequenas coisas, encontrar a felicidade. Recordo os brinquedos feitos de arame e latas de conserva, carrinhos criados por eles que nos deixavam completamente curiosos e maravilhados. Estas crianças tinham espírito de sacrifício, elas não se deixavam abater pelas adversidades e lutavam pela vida sempre com um sorriso. Já adulta recordo os sorrisos ingénuos e a felicidade estampada nas suas faces apenas por verem passar um carro na estrada, pousavam para a fotografia e com alegria cumprimentavam.
O que aconteceu para estarmos sempre insatisfeitos e a reclamar? Porque não somos capazes de sorrir?
Na busca de um sentido de vida acabo por questionar tudo o que existe e dou por mim a pensar que a essência pura da vida está lentamente a apagar-se em todos nós.
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