Sentir, Viver .... Amar

Conseguir encontrar a serenidade é uma meta difícil, com tantos dilemas que temos fica a agitação em nós que torna quase impossível alcançar a sabedoria de aceitar, esperar e acalmar para que as nossas acções não sejam meros impulsos. É tão natural sentir o abismo perante a complexidade do nosso ser, tentamos encontrar as respostas para as questões que a vida nos coloca ou que nós perante a vida construímos dentro de nós. Ser capaz de ter a serenidade de aceitar e entender que nem sempre estamos em controlo é um dom que nos escapa diversas vezes.  " Eu não compreendo porque tenho de fazer sempre o que os meus pais dizem?" " Eu tento compreender mas é difícil aceitar ... é injusto a vida ter levado o meu pai com aquela doença horrível!" " Eu sei que era uma relação doentia mas eu não o consigo esquecer!!" " Eu tento mas é difícil ir sem ter a certeza do que me espera.... como posso não ter medo de algo que não consigo controlar?!" ...

Ao pensar sobre a maternidade/ paternidade não consigo deixar de olhar para a minha própria experiência... Alguns de nós sonhámos com os filhos que um dia iremos ter, criámos várias expectativas e idealizámos. Contudo a realidade acaba por ser diferente... no início é um sonho, ao longo da gravidez vamos criando expectativas, contudo após o nascimento surge o turbilhão: emoções, noites sem dormir, choro, cólicas.... Com o tempo a fugir de nós, quando nos percebemos já o nossa/o filha/o gatinha... depois começa a falar e a expressar o que quer!!! Nos meses iniciais tudo é vivido com intensidade, tentámos alcançar a perfeição e desesperamos cada vez que não nos sentimos perdidos e assustados.  Só que o tempo anda em velocidade relâmpago e sem nos darmos conta já está na escola, começa cada vez a ser mais autónoma/o e independente. Uma fase de grandes dilemas... são tantas as perguntas " os porquês??" que a criança despeja em nós.  Ser mãe/ Ser pai hoje em dia não é...

Hoje enquanto estava no consultório fui recebendo um a um ... todos com dilemas e momentos muito difíceis para ultrapassar. Mas a cada consulta terminada, olhava para dentro e sentia uma parte de mim a reconstruir o puzzle da vida. Todos temos problemas no trabalho, na família e no amor... no fundo vivemos a angústia de viver... todos queremos alcançar o sonho. Houve um caso em particular que me levou ao tempo do primeiro encontro, quando estamos a viver os arrepios da paixão, aquele momento que ficámos com o sorriso parvo e a esperança de viver e encontrar a outra parte. Percebi que todos vivemos as mesmas sensações: coração aos pulos, mãos suadas, pernas sem força... é sem dúvida um momento muito intenso que para uns termina com um beijo e para outros com a lágrima no canto do olho. No fundo a vida é isso... quando temos a coragem de viver muitas vezes somos abençoados por momentos mágicos e outras vezes por momentos muito tristes. Aqui está a riqueza da existência: sermos capaze...

E quando a vida nos deixa perdidos em perguntas que provocam indecisão e paralisam as nossas ações... Nesses momentos não somos capazes de escolher, os pensamentos fluem aceleradamente, sentimos medo e alguma tristeza. Nem sempre conseguimos responder às nossas perguntas, principalmente  se estas só podem ser respondidas pelo outro. Só que nem sempre os outros revelam vontade de partilhar e de expressar o que sentem... e nessas alturas as dúvidas persistem em nós.  Como podemos nós seguir um caminho quando não percebemos qual seria o que nos levaria à felicidade, à descoberta e à conquista?!  Estes dilemas que surgem ao longo da vida normalmente vivenciados de forma negativa, ou melhor destrutiva perturbam todas as nossas escolhas. Nesses momentos o melhor será esperar que a tempestade termine, aguardar pacientemente por um dia em que as dúvidas se dissipem para assim escolher de forma consciente e acertada o caminho.  Alguns dilemas que muitos vivem...

A dada altura, quando caminhámos, a angústia apodera-se do nosso ser e leva-nos para um percurso cheio de picos... Por mais que tentemos viver no momento o nosso pensamento acaba perdido em diversas ideias que nos conduzem à angústia.... Quando percebemos que a vida é efémera! Quando tomamos consciência que o fim pode ser amanhã! E se fôr amanhã, será que tudo o que desejámos foi vivido? Será que não deixámos por dizer, fazer e sentir? Será que não perdemos tempo em querer fazer e deixámos de ser? Para quem busca um sentido da vida, todas estas questões levam ao crescer de uma angústia que os cega, revolta e entristece... Perceber que perdemos o tempo e não soubemos aproveitar e que, muitas vezes, deixámos de viver os momentos que a vida nos ofereceu.  E agora, como sair deste estado angustiante?! Talvez a partir da tomada de consciência de que a vida não pode ser abandonada... por isso temos de lutar pelo que desejámos, ser determinados nas escolhas, apre...

Hoje confesso estar nostálgica, a relembrar a minha terra, África, com vontade de sentir o chão e o cheiro dela e, ao mesmo tempo, a reflectir sobre a vida e o sentido que nem sempre conseguimos encontrar.  Ao reviver memórias tenho o impulso de voltar e dedicar-me ao trabalho que sempre pensei na infância realizar: trabalhar em África, a contribuir para minimizar todas as condições precárias da vida e dar tudo o que tenho para minimizar o sofrimento de uma população que luta para sobreviver. Neste mundo que vivo hoje as pessoas vivem insatisfeitas por não terem mais bens materiais, por não terem sucesso, protagonismo... Esta vivência leva -os a esquecer tudo o que a vida lhes dá e que eles não conseguem apreciar: comida, casa, saúde, etc. E depois acabam por perder o contacto com o sorriso puro, deixam de apreciar gestos simples. Além disso, o facto de tudo ser um dado adquirido e não agradecido leva à falta de força para lutar e à falta de coragem para viver. Acabamos po...

A escolha acarreta todo um caminho e a construção de uma vida... a verdade é que, muitas vezes, o ser humano entra em negação e prefere não tornar consciente este processo. Na terapia procurámos que a pessoa compreenda os seus padrões de comportamento, torná-la consciente do seu papel e do impacto das suas escolhas no presente e na construção do futuro. Contudo nem sempre é fácil  agir mesmo quando já estamos conscientes de qual caminho  seguir. "Sabe eu sei que a minha relação não faz sentido, que não estou bem, contudo falta-me a coragem para agir, sinto-me paralisado. Parte porque tenho receio de sofrer, de me arrepender... e se não existe ninguém melhor?" " Eu sei o que quero mas os meus pais não aceitam, eles acham que eu devia escolher/ aceitar aquela proposta de trabalho. Acabo por ficar angustiada porque não os quero decepcionar mas, ao mesmo tempo, eu não serei feliz naquele trabalho." " Eu sei que estou a perder a oportunidade ...

Todos os dias recebo pessoas no gabinete que vivem em busca do Amor... umas sofrem e outras desesperam. A maioria vive marcada pelas desilusões que viveram, criam dentro de si barreiras e acima de tudo deixam de confiar no Amor. Obviamente que consigo entender e sentir o que elas vivem e dizem, mesmo porque também passei pelo mesmo. Procuro encontrar as palavras certas, de as fazer olhar para si e, antes de mais, serem capazes de se amarem. Porque é essencial nós termos o nosso amor próprio para conseguir amar de forma interdependente, ou seja, amar mas não depender do afecto do outro. Uma relação de parceria em que ambos fazem o seu caminho ao lado um do outro, vão crescendo e aprendendo juntos e, acima de tudo, deixar o outro ser livre por forma a que não se anule na relação.  Nos dias de hoje o grande problema é a Confiança, são tantas as histórias de relações destruidoras, tantas as pessoas que contam que sofreram com a traição e que traíram. A forma como a sociedade t...

E quando a vida nos leva para o fim mas o nosso Ser não consegue sentir.... O não ser capaz de terminar com o sonho apesar de a realidade nos demonstrar o fim, é um dilema que nos leva a uma melancolia tão profunda. Essa melancolia é a luta entre o real e concreto contra a ilusão e o sonho. Por mais que tentemos ser racionais acabámos diversas vezes por voar e deixar a mente se perder num sonho. Tento encontrar o caminho nesta encruzilhada e vejo que acabo por ficar presa num caminho de areias movediças. Eu sei que tenho de sentir o fim mas a minha mente acaba por não conseguir, ou melhor, a minha essência permanece no sonho. Como eu quero voltar ao meu caminho... por estradas de chão plano e seguro. Eu quero vencer o sonho e recuperar o meu equilíbrio, sentir que estou livre e viver sem amarras. O mais absurdo é quando o sonho só existe em nós e não tem base para ser sustentado na vida real mas, mesmo assim, ele tem o poder de vencer e ser mais forte que a realidade. Porquê? Como ...

No início da minha prática clínica senti que não era capaz de trabalhar com as crianças ... eu não iria conseguir não ficar envolvida pelo dor e sofrimento. Hoje em dia cada criança que entra no meu gabinete ajuda-me a crescer, a ver e a perceber .... elas contêm o mais puro do ser humano. Devo confessar que a maioria delas sofre por causa das escolhas dos adultos.... os pais, os professores.... têm um peso tão grande na sua vivência..... Se todos os adultos perdessem um minuto para as escutar iriam perceber o impacto que as acções, palavras têm nas crianças. Desde as professora/os que  destroem a confiança e os deixam bloqueados na aprendizagem, aos pais que magoam com as suas lutas/ conflitos e, mesmo os irmãos que provocam o sentimento de injustiça e de abandono. Enfim, crianças que sofrem pela mão dos outros! Os pais vêm à procura de soluções mas acima de tudo de uma resposta que lhes ilibe de qualquer erro ou culpa em relação ao mal estar dos filhos. Nem sempre fácil de ...

Para alguns sentir a angústia de perda é afundar num mar escuro e profundo... Claro que quando perdemos sofremos mas podemos também conquistar!! Quando falo de perda, falo daquela pessoa especial que nos deixou, da pessoa que faleceu, do sonho, do trabalho.... de tudo o que desejámos e nos escapou. Depois de viver a tristeza, temos de olhar para o que ficou, o que podemos retirar que vá preencher o nosso vazio. Por exemplo, quando na nossa história temos a vivência da perda de uma mãe, de um amigo especial começamos a reflectir sobre a vida e a sua finitude. E, nesse momento, percebemos que a vida é um instante por isso deixámos de olhar para o insignificante e passámos a olhar para a vida e o relevante contido nela. Nesse momento criámos  uma filosofia de vida que passa por não adiar... se quero, se gosto e se desejo vou viver e não fugir.... passámos a viver o momento e a desfrutar tudo o que está ao nosso lado. Com o sofrimento crescemos e aprendemos a dar valor, a não deix...

Em determinados momentos  ficámos paralisados... a vida bloqueada no passado... nesses momentos  revivemos  a dor e o sofrimento do que se perdeu... do que não se alcançou e desejou. É absurdo quando confrontado com a sua realidade o ser humano é incapaz de cortar com as amarras do passado e viver o seu momento presente. O medo de viver leva à teimosia de manter a sua vida no passado, em vez de olhar para o momento. Assim, acaba por não ver tudo o que a vida lhe está a oferecer, todas as possibilidades que poderia escolher que levariam para um novo caminho e novas descobertas. Esta sua forma de viver provoca um estado de ser deprimido, fica abafado em memórias, na maioria das vezes, tristes e  a sua dificuldade de acreditar, leva a achar que essa é a única forma de viver.  Nos breves momentos que deixa o passado apenas projecta um futuro ameaçador, incapaz de acreditar na vida e na possibilidade de ter momentos felizes. O sentimento de ansiedade apodera o s...

No início vivenciamos a raiva, a dor e a mágoa... são períodos de grande agitação, o nosso ser vive um turbilhão de emoções, a dor é intensa e faz-nos perder a clareza do nosso pensamento. Contudo, temos de deixar tudo sair, sentir sem medos para depois alcançar o outro estádio, aquele que nos leva à clarividência e ao crescimento pessoal. Diversos casos que encontro na minha prática clínica vêm com histórias de amor mal resolvidas, o ser humano não consegue romper com o passado e ficam presos na mágoa de um amor perdido. Acabam obcecados e sem capacidade de ver que a história terminou. No fundo, a frustração, a sensação de fracasso apoderam-se do seu ser e não deixam cortar com um caminho que já não faz sentido. Isto faz com que percam a clareza do seu pensamento e fiquem perdidos e sem conseguir dar sentido às suas vidas. Todos os amores são especiais e diferentes e todos eles têm um princípio e um fim. Não vale a pena querer dar continuidade ao que já seguiu noutra direcção...